Prefácios – Modelos

Livro: Livre para ser Preso (2009)
Autor: Afobório

Num primeiro momento, o leitor que se deparar com este livro, que agora descansa em suas mãos, certamente se perguntará:
– Livre para ser Preso? Ora, somente quem está livre pode acabar preso.
Trata-se de um raciocínio lógico, realmente.
No entanto, no momento em que você decidir se aventurar pelas páginas que seguem esta apresentação, entenderá exatamente o que o autor, que assina sob o pseudônimo Afobório e usa uma balaclava enfiada na cabeça, quis dizer com este título, aparentemente contraditório.
É a história de Alencar, fazendeiro truculento e amargo que viu a esposa o trair com o frentista de um posto de gasolina e morrer bebendo conhaque.
E de Jorge, fugitivo da polícia, apaixonado por uma boneca chamada Cindy e que traz consigo a crença de que não é um homem, mas uma onça.
São estes dois personagens que protagonizarão uma caçada alucinante mata adentro, um tentando provar ao outro onde, exatamente, se concentra sua força e sua fúria; sua humanidade e sua bestialidade; sua sobrevivência e sua extinção.
Enquanto lia os originais desta obra, por diversas vezes me peguei embrulhada, enjoada, desconfortável.
Diversas vezes precisei parar para retomar meu fôlego, e me certificar de que o mundo lá fora não havia se transformado em uma perseguição convulsiva e furiosa, onde homens se confundem com bestas-feras e sentimentos se viram ao avesso, para comprovar o que todos nós sabemos, mesmo sem gostar: existe um bicho faminto e intolerante dentro de cada um de nós. Um animal irracional e violento, bruto, impetuoso, preocupado exclusivamente com sua sobrevivência, desprovido de tudo aquilo que acreditamos nos tornar humanos.
A história de Alencar e Jorge é, também, a história de todos os homens que deixaram para trás sua civilidade e sua compaixão, e mesmo assim continuam infiltrados no coração de uma sociedade aparentemente organizada, instituída e solidária – a sociedade onde eu e você vivemos, e onde nos sentimos muito, muito seguros.
Livre para ser Preso incomoda porque é legítimo, fidedigno, visceral e cruel.
Não espere por uma história aventureira, extravagante, cheia de monstros improváveis, final feliz e efeitos literários especiais.
Temos aqui uma narrativa real e desconcertante sobre tudo aquilo que uma criatura é capaz de fazer e de sentir, e até que ponto é capaz de chegar, quando não tem mais nada a perder.
Somente a ganhar.
Dê uns goles deste vinho, acomode-se neste sofá e tenha uma boa excursão pelos caminhos sombrios e regelados percorridos por estes dois homens, que se libertaram das amarras que nos mantêm presos ao que chamamos de civilização.
Mas se aceita um conselho, caro leitor, não embarque nesta leitura delirante antes de dormir ou de comer.
O resultado pode ser desastroso, como desastrosos somos todos nós.

Organização: Jana Lauxen
Vários autores

O que faz um time de futebol ser um grande time?
Um plantel qualificado e comprometido, uma direção inteligente, títulos, gols.
Sim, tudo isso.
Porém, eu pergunto: de que adianta um plantel qualificado e comprometido, uma direção inteligente, títulos e gols, sem a sua torcida?
Mas não qualquer torcida.
Afinal, de nada serve uma torcida feroz, que troca os gritos de incentivo pelas vaias, que depreda, que clama palavras de ódio, que ameaça, que ataca, que destrói.
Deste tipo de ‘torcedores’ time nenhum precisa; menos ainda um grande time de futebol.
Esta coletânea é sobre um grande time de futebol: o Sport Club Internacional.
Mas, principalmente, sobre uma grande torcida: a dos colorados.
Uma torcida leal e entusiasmada, que já passou, ao lado do clube que defende e ama, momentos de muita felicidade, e também de extrema aflição.
No entanto – e isto é muito importante – em nenhum destes momentos, sejam eles bons ou ruins, abandonou o Inter. Muito, muito pelo contrário.
É na dificuldade que reconhecemos os verdadeiros torcedores; é na hora da tempestade, em alto-mar, que descobrimos quem são os melhores marinheiros.
E deixar o navio, junto com os ratos, definitivamente não é característica de torcedor colorado.
Nesta coletânea, reunimos textos de colorados de diferentes lugares, com diferentes idades, cada qual discorrendo sobre momentos que viveram ao lado deste clube vermelho e branco que aprendemos a amar e respeitar desde o berço.
Seja nos tragicômicos anos 90 ou na gloriosa conquista do mundo em 2006, dentro deste livro existem muitas histórias.
Histórias de torcedores que se entrelaçam com a história do próprio clube; histórias de uma torcida que lota o Gigante sempre que assim é convocada e, com sua voz, seus cânticos e seu amor, que é incondicional, empurra o time para frente, para cima, sempre!
Por esta razão, esta coletânea não falará apenas do colorado.
Mas dos colorados, no plural, esta torcida linda e vermelha, capaz de fazer de um jogo de futebol um grande espetáculo; de transformar um estádio em um inferno vermelho e vibrante.
Uma torcida que pulsa com a vitória e, na derrota, se cala, naquele silêncio sentido que só é capaz de entender quem já teve o coração partido.
Uma torcida serena e fiel, que sabe incentivar, construir e fazer a diferença, como todo décimo segundo jogador deve fazer.
Estes são os colorados.
Eu, com muita alegria e orgulho, sou uma colorada.
E junto com meu time e com a minha torcida sigo, na vitória, na derrota, na alegria e na tristeza, até o fim.
Porque a verdade é que, por trás de um grande time, sempre há uma grande torcida.
E o Sport Club Internacional, por todos estes motivos é, sem dúvida nenhuma, um grande time.
Avante, colorados!
O Gigante nos espera para começar a festa!

Livro: Subterfúgios Urbanos (2012)
Autor: Wuldson Marcelo

Oi, querido leitor.
Meu nome é Jana Lauxen, e fui gentilmente convidada a prefaciar este livro, que você agora tem em mãos.
Mas antes de descrever minhas impressões sobre Subterfúgios Urbanos, preciso falar sobre o autor desta obra; um cara chamado Wuldson Marcelo.
O conheci em 2009, quando organizava a coletânea de contos policiais Assassinos S/A.
Na ocasião, Wuldson nos enviou um texto chamado Todos Querem a Cabeça do “Compadre” Matias Reis; uma narrativa absurdamente criativa, com uma estrutura completamente diferente de tudo o que eu havia recebido até então. Uma história que se passava tal e qual um filme, cheia de imagens, sons e sensações.
Por problemas burocráticos e algumas falhas de comunicação, Todos Querem a Cabeça do “Compadre” Matias Reis infelizmente não foi publicado nesta coletânea – o que me deixou, e deixa até hoje, chateada pra caramba!
No entanto, este pequeno imbróglio literário serviu para que eu conhecesse mais e melhor o autor deste livro, que agora, caro leitor, você se prepara para ler.
Sorte a minha, pois Wuldson, além do grande talento literário que é, também é um cara extremamente profissional e criativo, um bom amigo, um parceiro sempre bem-vindo em meus projetos e projéteis de literatura.
Assim como suas histórias, Wuldson está sempre pronto para acrescentar; e surpreender.
Subterfúgios Urbanos é um livro exatamente sobre o que se refere o título: fugas, saídas e escapulidas dentro de uma cidade, dentro de uma realidade urbana e cimentada – e um tanto caótica – que vibra ao nosso redor, onde habitamos, onde vivemos, onde nos relacionamos. Onde somos o que somos.
Uma realidade urbana, cimentada e caótica que acontece fora, mas também e principalmente dentro de nós.
Somos um produto do meio onde vivemos, ou este meio é que reflete quem somos? 
A verdade na qual acredito é que as pessoas – todas elas, inclusive eu e você – sabem do que fogem. E todas fogem de alguma coisa. De si, dos outros, de ambos.
Porém, nestas escapadelas cotidianas, onde passamos envolvidos boa parte de nosso tempo, vamos deixando rastros claros de quem somos – exatamente daquilo que tanto queremos nos esquivar.
Para disfarçar nosso rosto, usamos uma máscara tal e qual o nosso próprio rosto.
Por tudo isso, prezado leitor, sugiro que você leia Subterfúgios Urbanos.
Por que os contos que virão, tão logo você virar esta página, são todos cheios de camadas, nuances, tom sobre tom. Como as muitas máscaras de nós mesmos que usamos, simultaneamente e em diferentes ocasiões.
As histórias que Wuldson escreve são assim: sobrepostas.
E sobrepondo-se, elas se completam.
Como nós, que também nos completamos e nos tornamos quem a gente é: um produto do meio onde vivemos, ou este meio onde vivemos é que reflete quem somos? 
Não importa.
O que importa mesmo é que, quando uma história se completa na cabeça de um leitor, então já era: é só afrouxar o cinto, esticar as pernas e relaxar a cabeça no sofá. A viagem começou.
Chegou o momento, amigo leitor, de conhecermos os lugares para onde fogem, e do que fogem, algumas das pessoas que procuram se encontrar.
O Wuldson tem o mapa, e todos os caminhos nos levam para Cuiabá.